Ele olhou-me durante uns segundos que mais pareciam séculos e eu insisti.
- Responde! Ainda me amas?
- Não sei. Não sei, ok? Temo-nos afastado e… E…
Interrompeu o discurso para me olhar. As lágrimas apoderaram-se dos meus olhos. Não consegui conter-me. Ele chegou mais perto. Abraçou-me. Ou pelo menos tentou.
- Hey, não chores, por favor. Filipa?
- Deixa-me, larga-me. – Respondi, limpando as lágrimas e tentando desesperadamente soltar-me daquele abraço. – Foste tu. Aliás foste tu e ela. Não me venhas com tretas agora.
- Desculpa…
Foi tudo. Foi tudo o que ele conseguiu dizer. “Desculpa”. Nisto, soltou-me, virou costas e foi-se embora. Tinha acabado. Não conseguia acreditar que uma relação com tanto tempo tinha acabado assim. Por causa de uma miúda.
Desatei a chorar mas rapidamente reuni forças. Calma Filipa. Não chores. Não vale a pena. Ele não merece. Dizia para mim própria. Naquele momento decidi que não choraria mais por ele. Promessa que obviamente não cumpri.
Voltei para a escola no dia seguinte. Tentei agir normalmente. Como se nada daquilo me afetasse. Amava-o, mas estava decidida a que aquilo mudasse.
No intervalo da manhã vi-os juntos. Passei por eles, olhei-o. Ele sorriu-me. Um sorriso amarelo. Era tudo o que tinha do Dudu. O rapaz com quem namorei e por quem teria dado a vida, sorriu-me forçosamente, como se eu não passasse de uma mera conhecida.
Aguentei-me o mais possível para não chorar. Porém, na hora de almoço, quando os voltei a ver juntos e abraçados, corri para a casa de banho. Tranquei-me numa das casas-de-banho disponíveis e desatei a chorar. Baixinho, para ninguém me ouvir. Estive naquilo uns cinco minutos, até que decidi ser forte. Mais ainda. E encarar a realidade. O Dudu era passado.
Mal saí da casa de banho, com os olhos ainda vermelhos, cruzei-me com o Nuno. O Nuno era um rapaz da minha turma, que conhecia há relativamente pouco tempo, mas com quem me dava bastante bem. Éramos amigos, apoiou-me em vários momentos, mas era um mulherengo de primeira. Tinha motivos para tal. Alto, moreno, olhos castanhos porém super penetrantes, umas covinhas de cortar a respiração e um charme especial. Um charme que nunca me afetou, porém o mesmo não se podia dizer… bem, de todas as outras. Não tinha nada contra ele, aliás sempre era bom para lavar as vistas.
- O que se passa Filipa? – Pergunta-me ele, visivelmente preocupado.
- Hum… nada, não se passa nada. Não te preocupes. – Disse eu, de cabeça baixa, e tentando escapulir-me. Quase fui bem-sucedida. Quase. Enquanto tentei saí dali, ele agarrou-me no braço.
- Podes contar-me.
- Não não posso. – Disse. Se contar começo a chorar. Pensei. Porém não disse.
- Não me importo que chores ao contar-me. É na boa. - Disse ele, como se tivesse lido os meus pensamentos. Puxou-me de volta para perto dele. Levantou-me na cara, e olhando-me nos olhos, disse: - Podes falar, a sério.
Não perguntem que raio se passou comigo quando decidi contar-lhe. Não o conhecia tão bem quanto isso, mas não sei, ele inspirava-me confiança. Os olhos dele pareciam dizer-me que podia confiar nele. Assim fiz.
Passámos a hora de almoço a falar. Contei-lhe tudo sobre nós. Bem, quase tudo. Ele não precisava de saber que tínhamos feito amor. Tinha medo do que ele poderia pensar e então decidi ocultar esse aspeto. Ocultar que tinha tido a minha primeira vez com um idiota que já nem me consegue olhar na cara.
No fim de lhe ter contado tudo, abraçou-me.
- Tens o meu apoio. – Sussurrou. – Não fiques assim. Mereces bem melhor.
- Obrigada. – Disse, ente lágrimas. – A sério, obrigada.
E passámos o resto do tempo a conversar sobre ele, sobre mim e os mais variados assuntos. Durante aquele tempo, parecia que os problemas tinham desaparecido. Fez-me bem conversar com ele. E o tempo passara a correr.
- Olha… - Disse ele, reticente.
- Sim, diz. – Respondi, encarando-o.
- Não penses coisas erradas, não me estou a atirar a ti, juro. Mas…
- Mas?
- Dás-me o teu número? Assim, só para ter. Caso precises de algo e essas coisas.
- Claro. Se não soubesse da tua fama, era capaz de acreditar. – Disse, sorrindo.
- Estou a falar a sério. És uma miúda super simpática, e quero apenas ser teu amigo. Sei que é difícil de acreditar vindo de mim, mas juro que é verdade.
E dei-lho. Afinal, que tinha a perder?
Quando as aulas terminaram, voltei para casa. Depois de jantar, estava a ver tv na sala quando ouço o telemóvel a tocar. Era uma mensagem. Do Nuno. “Está tudo bem?”.
p.s. - personagens
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