21.4.12

3º Capítulo - “estou para aqui a chorar que nem uma tola.”

Eu estava muito preocupada com ele. Pelo caminho estava sempre a tentar meter conversa mas ele respondia-me vagamente ou então nem dizia nada:
- Então fizeste o tpc de matemática? – Pergunto-lhe eu, na tentativa de meter conversa.
- Sim.
- Eu também. Temos de ver quando é que fazemos o trabalho de inglês…
- Hum, hum – Respondeu-me ele sem me dar muita atenção.
- Já pesquisei algumas coisas, mas ainda falta muito para fazer.
- …
- E tu, já fizeste alguma coisa?
- Não…
E continuámos o caminho todo nisto. Além de não lhe ter conseguido arrancar nada sobre o que se tinha passado, não o consegui animar. E continuei a pensar naquilo o dia inteiro. Perguntas como “o que se terá passado?”, “terá sido com os pais?”, “porque é que ele não fala comigo?”, passavam pela minha cabeça e o pior é que eu não tinha resposta para nenhuma delas…
Como não queria ficar sem saber o que tinha acontecido, pois queria apoiar o Dudu, fui a casa da Dona Mariana, a mãe dele, para ver se sabia dalguma coisa. Fui lá antes da hora do jantar, hora em que sabia que o Duarte estava nos treinos de futebol e assim podia conversar com ela à vontade. Bati à porta.
- Quem é? Eu hoje não estou para ninguém… - Foi o que ela disse assim que ouviu alguém a bater à porta. Já sabia que algo se tinha passado lá em casa.
- Sou eu a Filipa. Preciso muito de falar consigo, é urgente. Abra a porta por favor!
- Ah és tu Filipa. – Com isto abre-me a porta. – Entra, entra. – Ela não parecia estar bem. Antes pelo contrário. Tinha um olho negro, que estava a tentar esconder, mas eu reparei.
- O que é que se passa, D. Mariana? – Pergunto-lhe, olhando para o olho dela, preocupada.
- Ah isto! Não é nada. Caí das escadas ontem e fiquei com o olho neste estado.
- Mas sente-se bem? – Eu estava pouco convencida com a sua desculpa meio esfarrapada.
- Sim… - Uma lágrima escorre-lhe pela cara e apesar de a tentar esconder, chega a um ponto em que já não consegue mais. As lágrimas transbordam-lhe pelo rosto, sem as conseguir controlar.
- Deite tudo cá para fora – Digo-lhe enquanto a abraço com muita força, na tentativa de a acalmar.
- Desculpa Filipa, estou para aqui a chorar que nem uma tola. – Diz-me ela, um bocadinho mais calma.
- Não diga isso, todos temos problemas. Mas o que se passou, pode contar-me? Hoje o Dudu também estava muito em baixo, ele não queria falar comigo, nem contar-me o que se passava. Foi alguma coisa aqui em casa?
- Bem, sim. Foi com o meu marido. Ele… - Ela não consegue acabar a frase, pois começa novamente a chorar.
- Tenha calma D. Mariana. Quando se sentir preparada para me contar, pode dizer.
- Desculpa. – E com isto, limpa as lágrimas e prepara-se para falar. – O meu marido, o André, chegou hoje a casa, já de madrugada. Estava bêbado. Eu não sei se tu sabes, mas isto ultimamente tem sido habitual aqui em casa. Passa a vida nisto. E o pior de tudo é que anda cada vez mais agressivo.
- Sim, o Duarte tem-me contado o que tem acontecido.
- Mas ontem ainda estava mais agressivo que o normal. Chegou a casa, bateu com a porta e começou aos berros, a gritar por mim. Eu vim a correr do quarto para tentar não acordar o Duarte. Mas ele não estava a dormir, à espera do pai. Perguntei ao meu marido o que se passava, e enquanto isso, o meu filho já estava de pé a olhar para nós. O André, sem explicações, começa a bater-me, a dar-me chapadas, murros, pontapés. Eu começara a chorar, mandei o Duarte sair dali, para ele não ver aquela cena, mas ele não ia. Tentou intervir e parar o pai, mas não conseguiu. Depois de, também ele, levar um empurrão, desistiu de tentar. Foi para um canto e chorava silenciosamente. Quando olhei para ele, estava lavado em lágrimas. Revoltada comecei a tentar libertar-me do meu marido e atirei-lhe com um jarro à cabeça. Ele caiu no chão, a sangrar da cabeça, mas conseguiu levantar-se e sair de casa, batendo com a porta. Eu fui ter com o Dudu. Estava inconsolável, mas eu também não estava muito melhor. Tentei acalmá-lo, mas nada. Levei-o para a cama, deitei-me ao lado dele. Ele não parava de chorar. Abracei-me a ele com muita força, até que por fim acalmou e conseguiu adormecer. Mas eu não. De manhã, o André ainda não tinha voltado. Aliás, ainda não voltou. O Duarte insistiu em ir para a escola hoje de manhã. Disse que distrair-se lhe ia fazer bem, mas pelos vistos ficou na mesma. Eu não consegui ir trabalhar, não tinha forças para nada.
Sem conseguir dizer nada, abracei-me a ela com muita força. Estava em estado de choque. O Duarte não estava nada bem e a Dona Mariana muito menos. Eu tentava controlar as lágrimas, pois sabia que chorar não ia ajudar em nada. Ela já estava mal, e se chorasse ainda a punha pior. Eu queria ajudá-la mas não sabia como.
Naquele momento, o Duarte entra em casa. Vendo aquele cenário percebe que eu já sabia de tudo.
- Porque lhe contaste, mãe? Não lhe devias ter contado. Eu não quero que ela tenha pena de nós! – Diz ele, aos gritos, já a chorar.
- Tem calma Duarte. A tua mãe fez bem em contar-me, assim eu posso ajudar no que for preciso. – Digo eu enquanto tento abraçá-lo. Mas ele não deixa.
- Tu tens é pena de mim. E eu não quero que tenhas pena. – E vai para o quarto, trancando-se lá. Vou atrás dele, mas não me deixa entrar. Bato repetidamente à porta, para que me deixe ir ter com ele, mas nada resulta. Eu ouvia-o a chorar. E deste lado da porta, eu também já chorava.

4 comentários:

quase-princesa disse...

:D

Cláudia disse...

Amo a tua história, porque não é como as outras... Não é daquelas histórias fúteis sem sentido... AMO mesmo!! Até agora está perfeita *----*

quase-princesa disse...

Ainda bem que gostas :D Tento que tenha sentido e dar-lhe um rumo giro. Obrigadaa *-*

Anónimo disse...

A história e real? :$