- Sim, é verdade! Ele é o teu pai… Desculpa saberes isto assim, mas tu tinhas de saber mais cedo ou mais tarde! Como te disse ele deixou-nos porque achava que estaria melhor sem nós… Mas não é bem essa a verdade… - Disse a minha mãe.
- Então qual é a verdade? – Perguntei, curiosa.
- A verdade é que… ele tinha outra mulher. E quanto sentiu o peso da responsabilidade de ter um filho, decidiu fugir com ela. – Explicou ela.
Bem, estava mais do que espantada. Era algo de que não estava à espera, seguramente. Então aquele homem que falou comigo à entrada da escola era o meu pai? Ele tinha fugido com outra mulher? Mas que raio de pai era aquele? Devo ter ficado muito tempo a pensar nisto, pois quando dou por mim estava a minha mãe aos berros a perguntar-me se estava bem, porque eu não respondia!
- Filipa estás bem? Fala comigo, querida! Eu percebo que isto tudo te tenha apanhado de surpresa mas reage filha! – Disse ela, praticamente aos berros.
- Calma mãe! Sim eu estou bem. Estava só a pensar no que me acabaste de contar. Eu acho que vou para o meu quarto, preciso de pensar nisto tudo… - E com isto, fui para o meu quarto, o único sítio sossegado, onde conseguia pensar no que tinha acabado de saber.
As perguntas assaltavam-me. Coisas como: “porque é que só agora é que ele decidiu procurar-me?”, “Será que não estava feliz com a outra mulher?”; “Como posso perdoá-lo, ele abandonou-me.”; “Ele traiu a minha mãe…”; “Como é que ele descobriu onde ando na escola? Bem, nós não mudámos de casa desde que nasci, mas será que ele me andou a seguir?”; “Como sabia que era eu?”… Eram tantas perguntas e não tinha resposta para nenhuma delas. A minha cabeça andava às voltas e não conseguia parar de pensar naquilo. Depois lembrei-me que ele disse que eu iria saber na altura certa quem ele era. Bom, isso eu já sabia, mas isso significava que talvez ele iria voltar a vir ter comigo… Será que ele iria mesmo voltar? Ou iria fugir de novo? Ok, nem sequer queria pensar na segunda hipótese! Apesar de tudo, ele era o meu pai! E queria mesmo conhecê-lo verdadeiramente.
Imaginava nós os dois, na brincadeira, como pai e filha. Sonhava com isto desde criança. Agora estava mais perto de realizar este sonho.
Acabei por adormecer a pensar nisto. Possivelmente nem jantei, ou se o fiz nem me lembro, pois estava tão perdida nos meus pensamentos… Aquilo tinha realmente mexido comigo.
De manhã, quando me levantei as perguntas voltaram a tomar conta dos meus pensamentos. Rapidamente me despachei, tomei banho, comi os meus cereais e vesti-me. Quando desci, o Dudu já devia estar à minha espera há anos, porque estava com aquela cara que ele faz quando está impaciente.
- Olá Dudu! – Disse eu.
- Olá?! Até que enfim, podes dizer. Estou à tua espera há 10 minutos! – Respondeu ele, com cara de poucos amigos.
- Hey calma! Sim eu atrasei-me mas também não é motivo para tanto. – Retorqui tentando acalmar-me.
- Ok, ok desculpa. Mas já estava a ficar sem paciência! Então estás boa?
- Sim, dentro do possível. E tu?
- Eu estou bem, mas que se passa? – Perguntou preocupado, enquanto caminhávamos para a escola.
- Lembras-te de ter dito que ia contar à minha mãe sobre o que se passou ontem?
- Sim, mas o quê, ela reagiu mal?
- Uma beca, mas o problema não é esse… - Tentei explicar.
- Então?
- Ela pediu-me para explicar como era o homem, e eu expliquei. De repente ela foi buscar uma fotografia e mostrou-ma. O homem da foto era muito parecido com aquele homem. E eu disse isso à minha mãe. Perguntei-lhe então quem era, e ela disse que aquele era o meu pai!
- O teu pai? ‘Tás a brincar! Não pode ser… - Disse ele, espantado.
- Tanto pode, como é. Eu também reagi assim, foi chocante para mim. Depois pus-me a pensar em tudo… - E com isto, contei ao Dudu os meus pensamentos e tudo o que imaginara. Viemos o caminho inteiro a falar disto e já estávamos quase a chegar à escola. Eu já olhava em redor a ver se o via. Àquele homem… Ao meu pai.
Olhando em redor vejo-o. Ele também procurava alguém, com o olhar. Será que era a mim? De repente olha na minha direção e vê-me. A passos largos dirige-se até mim.
- Olá Filipa.