Estava em estado de choque. Sem reação... Quando voltei à realidade disse:
- O quê? Como assim, um acidente? O que é aconteceu? Eles estão bem? Por favor diga-me que eles estão bem!
- Um acidente? O que é que se passou? – Perguntou o Dudu, também ele preocupado.
- Calma Filipa. Eu vou agora buscar-te aí a casa e vamos para o hospital. – Exclamou a D. Mariana.
- Mas diga-me primeiro como é que eles estão! Por favor… - Implorei.
- É melhor dizer-te pessoalmente. Vinte minutos e estou aí… - Disse ela.
- Não, D. Mariana, por favor!
- Adeus Filipa. – E com isto desligou o telefone.
- Como é que ela pode deixar-me assim? Que cena!
- Calma princesa.
(…)
(No carro)
- Agora já pode dizer-me o que se passou, não? – Disse à D. Mariana, ansiosa.
- Tem calma querida.
- Não me peça calma numa situação destas! Tem de compreender, são os meus pais! Tiveram um acidente e eu não sei como é que eles estão! Se tiver más notícias por favor diga. – Disse, insistindo.
- Sim eu percebo a tua situação. Mas nesta altura tens de ter muita força…
- O que é que quer dizer com isso? – Perguntei assustada.
Ela permaneceu calada durante vários minutos. Eu? Eu tinha medo do que aquele silêncio poderia significar… Nem sequer queria pensar na pior das hipóteses…
- Mãe podes dizer d’uma vez?! Não a deixes assim! – “Saiu” o Dudu em minha defesa.
- Ok, ok. Filipa, os teus pais… Tiveram um acidente gravíssimo. A tua mãe está em come num estado muito mau e os médicos não lhe dão grandes hipóteses. E no caso de ela recuperar pode ficar com grandes sequelas.
- O quê? Não pode ser… - estava chocada. Mas de repente lembrei-me: - E o meu pai?
- O teu pai escapou apenas com a cabeça e a perna partida… Mas está em estado de choque.
Fiquei ligeiramente aliviada. Ao menos estava “bem”. Mas a minha mãe… A pessoa que mais cuidou de mim, que me educou e tomou conta de mim como uma heroína… Estava… Mal! Não sei descrever o que sentia naquele momento… Senti-me mal. Tinha tanto medo de a perder. E logo agora que não estávamos muito bem… Sem me aperceber as lágrimas escorreram-me pela face sem as conseguir controlar. O Dudu abraçou-me.
- Vai tudo ficar bem princesa. – Disse ele, tentando acalmar-me. Mas eu sabia que as coisas podiam não ser bem assim…
Não disse mais nada o caminho todo. Não conseguia falar. Só queria chegar ao hospital. Chegar e o médico vir ter connosco e dizer-nos que a minha mãe afinal recuperou e que o meu pai está bem.
Finalmente chegámos. A D. Mariana foi falar com o médico que estava a tratar do caso dos meus pais. Voltou sem grandes notícias. Tudo estava mais ou menos na mesma. A minha mãe continuava num estado crítico e o meu pai em estado de choque. Mas deram-me autorização para ir vê-lo. Só a ele, porque acharam que iria fazer-me mal ver a minha mãe no estado em que se encontrava.
- Pai…? - Murmurei ao entrar no quarto.
- Olá filha. – Disse ele. Parecia perdido nos seus pensamentos e estava a olhar como que para o vazio.
- Como estás?
- Mais ou menos. E tu? Como soubeste que estava aqui? Já sabes da tua mãe? – Perguntou ele.
- A mãe do meu melhor amigo andou à vossa procura. Ligou para todos os hospitais e acabou por vos encontrar. E sim, já sei da mãe.
- Desculpa filha! Eu sei que a culpa é toda… - Interrompi-o.
- Pai, nem te atrevas. Tu não tiveste culpa do que aconteceu. Foi um acidente. Vai ficar tudo bem, vais ver. – Disse, tentando reconfortá-lo.
- Espero que sim. – Disse ele.
- Filipa é melhor irmos. – Disse a mãe do Dudu ao entrar no quarto.
- Quem é a senhora? – Perguntou o meu pai.
- É a mãe do meu melhor amigo. A que andou à vossa procura. – Expliquei.
- Prazer, sou a Mariana. – Disse ela esticando o braço.
- Olá sou o Afonso. – Saudou o meu pai.
- Bem, vamos? – Perguntou a D. Mariana.
- Sim. – Virando-me para o meu pai: - Bem, adeus pai, as melhoras.
- Obrigada filha. Adeus.
Depois de muita insistência por parte do Dudu e da mãe, acabámos por ir para casa. Eu não queria sair dali, mas acabei por ceder.