No fim do dia fui para casa. Estava extremamente triste, chateada. Nem sei. Entrei em casa e fechei-me no quarto. A minha mãe veio tentar saber o que se passava, porém, sem sucesso. Fui ver que t.p.c.'s tinha para fazer, fi-los e depois pus-me no computador, a ouvir música aos altos berros. Serviu para acalmar um pouco. A música acabou, e ouvi um som fora dos meus fones. Era o telemóvel. No visor, “Dudu”. Não atendo. Tinha 3 chamadas não atendidas. Ele volta a tentar, mas eu volto a não atender. Não queria falar com ele, simplesmente. Passado um pouco recebo uma sms: “Preciso de falar contigo.”. Bem, mas eu não quero – pensei. Voltei aos meus assuntos mas ele parecia não querer desistir. Ligou-me mais umas 5 vezes antes de eu finalmente atender:
- Que foi? – Disse eu, numa voz meio-agressiva.
- Que se passa contigo? Já te estou a ligar há imenso tempo! – Retorquiu, furioso.
- Não podia atender. – Menti. – Mas diz lá, o que é que queres?
- Preciso de falar contigo.
- Já estás a falar. – Respondo, continuando seca.
- Não é assim. Cara-a-cara.
- Sabes o caminho até cá. Quando estiveres cá em baixo dá um toque. – E com isto desligo.
Em 5 minutos ouço o telemóvel a tocar. Fui ver, era ele. Olhei pela janela. Foi rápido.
- Oi. – Disse ele, constrangido. – Podes sair, ou posso entrar?
- Não podes falar assim?
- Oh Filipa…
- Entra. – Ele foi dar a volta e entrou.
Fomos para o meu quarto.
- O que se passa princesa? – Disse ele, carinhoso.
- Vai chamar princesa à Marta. – Pensei, mas não disse. Porém, ele pareceu ler os meus pensamentos.
- Tu é que és a minha princesa, mete isso na cabeça.
Mantive-me em silêncio.
- Fala comigo. – Implorou ele.
Estava sentada na cama, com uma almofada com colo. Escondi a cara. As lágrimas transbordaram pelos olhos. Ele aproximou-se de mim. Levantou-me o queixo, contra a minha vontade. Limpou-me as lágrimas e abraçou-me.
- Eu não te vou trocar por nada deste mundo. – Sussurrou-me ao ouvido.
Depois disso, acalmei-me um pouco. Sorri.
- Ouve… - Principiou ele. – Eu sei que estive mal contigo esta manhã. Desculpa a minha reação. Fiquei lixado por sentires ciúmes dela. Logo tu. Sabes que eu te amo. E não gosto nada dessas inseguranças.
- Nem eu… - Disse, baixinho.
- Desculpa. – Disse ele, carinhosamente.
- Eu desculpo, mas tenta entender também o meu lado. Ultimamente passas a vida com ela, só falas dela, na outra noite nem vieste cá por causa dela… E nem avisaste. Chamaste-me infantil. Desliguei-te o telefone na cara nem voltaste a ligar. De manhã falaste super mal para mim, como se tivesses algo a esconder. Essas coisas magoam Dudu. Nunca te comportaste assim comigo.
- Eu sei, eu sei. Desculpa. Eu agi muito mal, admito. Desculpa isto tudo. Prometo que não volta a acontecer. Sim?
- Sim. – Respondi, ainda um bocado triste.
Eu queria acreditar nele, mas não conseguia. Havia qualquer coisa que me impedia. Sabia que aquilo não seria a nossa última discussão sobre o assunto. Que tudo estava apenas no início. Que muito mais estava para vir. Mas simplesmente forçava-me a não acreditar verdadeiramente nisso. Dizia para mim própria que estava a exagerar, a fazer filmes. Mas infelizmente não estava. As coisas pioraram.
As semanas passavam. Inicialmente, o Dudu voltou ao seu comportamento normal. Mas depois, as coisas voltaram a ficar mal. Ele não vinha a minha casa todas as noites, como de costume. Só de vez em quando. E quando vinha nunca esperava até adormecer. Arranjava sempre uma desculpa e ia embora passados 10 minutos. Na escola mal me falava. De manhã dava-me um beijinho (nos dias em que não íamos juntos) e pouco mais do que isso. Durante o dia via-o sempre com aquela víbora. Não vinha ter comigo, no máximo dava-me um beijo ao passar por mim. Mais nada.
Fui falar com ele várias vezes sobre esta situação e nada. Ele não queria admitir que se estava a afastar e dizia sempre que era por estarmos em turmas diferentes. Um dia tivemos uma enorme discussão sobre o assunto, com a turma dele a assistir. Eu lavada em lágrimas e ele a gritar comigo. Chegou a um ponto em que não aguentei mais e virei costas. E ela? Simplesmente sorria. Estava a conseguir o que queria.
No dia seguinte decidi falar com ele, com calma. Pedi-lhe para ir lá a casa e ele, contrariado, acedeu ao meu pedido.
- Entra. – Disse eu.
- Porque é que me chamaste? – Perguntou, visivelmente chateado.
- Que lata que o menino tem. Ainda te lembras? Sou tua namorada. A Filipa, Duarte. A tua princesa. – Disse, irónica.
- Escusas de vir com essa ironia toda!
- Desculpa? – Disse eu, chocada.
- Tu é que fazes filmes À toa e a culpa é minha?
Ri ironicamente. Parei. Momento de silêncio. Olhei-o, mas já não era o mesmo. Já não via aquele brilho no olhar, aquele carinho que ele tinha ao olhar para mim. Já não via nada. À beira das lágrimas, perguntei-lhe:
- Ainda me amas?