- Tem calma princesa, vais ver que não é nada... - Disse o Dudu ao perceber que eu tinha lágrimas nos olhos.
- Eu nem quero imaginar se lhes acontece alguma coisa… Tenho tanto medo! – Desatei a chorar. Não costumava fazê-lo mas estava com um pressentimento muito mau. O Duarte abraçou-me. Não disse nada apenas me abraçou. Fez-me sentir melhor por momentos.
- Vai tudo ficar bem Filipa.
Fui para o meu quarto, pus numa mala uma muda de roupa e na da escola os livros para o dia seguinte. Provavelmente ia voltar a dormir em casa do Dudu.
Assim foi. Chegámos a casa e a D. Mariana já lá estava. Estranhou a demora e já estava preocupada. O Dudu acalmou-a e eu contei-lhe o que tinha acontecido. Ela disse-me que iria ficar tudo bem e também disse que se os meus pais não dissessem nada até ao dia seguinte que tentava encontrá-los ligando para todos os hospitais. Se continuássemos sem notícias deles, iríamos à Polícia comunicar o desaparecimento.
Eu só queria que aquilo tudo não fosse necessário. Que a minha mãe ligasse a dizer que estava tudo bem. Não me importaria se ela dissesse que se distraiu com as horas a passear com o meu pai ou coisa parecida, apenas queria saber que estava tudo bem.
Jantámos e depois fomos ver televisão para a sala. Estava cheia de sono, mas não queria ir dormir para o caso de a minha mãe ligar. O telefone estava na sala e eu podia dormir no sofá. A mãe do Dudu discordou, mas eu insistiu e ela acabou por ceder. Não queria adormecer pois podia não ouvir o telefone.
- Ainda estás acordada? – Surge o Dudu, vindo do quarto.
- Sim… Não quero dormir, a minha mãe pode ligar e eu depois posso não ouvir o telefone a tocar. – Expliquei. – Mas o que estás aqui a fazer?
- Estou preocupado contigo… Não te quero deixar aqui sozinha.
- Não te preocupes príncipe, é na boa, eu fico bem. – Tentei convencê-lo, mas sem êxito.
- Nem pensar, eu venho dormir contigo. – Disse decidido. E antes que eu pudesse dar-lhe resposta, ele desapareceu e dois segundos depois voltou com a almofada dele e com mais um cobertor.
- Oh Dudu, a sério não é preciso!
- É sim. Vá chega para lá, para cabermos os dois. – Retorquiu.
O sofá não era muito grande, mas era suficiente para cabermos os dois, se nos apertássemos. Previa umas dores enormes nas costas no dia seguinte, mas não me preocupei.
A única maneira de cabermos decentemente era dormirmos tipo conchinha. Ou aquilo a que se chama a posição fetal. O Dudu acabou por pôr o braço dele “à minha volta” ou seja por cima da minha barriga.
Depois de umas voltas na “cama” acabei por adormecer.
De manhã, fomos acordados pela D. Mariana.
- O que é que se passa, a minha mãe ligou? – Perguntei ensonada. Tinha a impressão que ainda era de noite, mas ao ver que como mãe do Duarte estava vestida percebi que provavelmente eram horas para irmos para a escola.
- Não Filipa tem calma. Ainda não são horas de acordarem, apenas queria dizer-te para me dares a chave de tua casa, para ver se alguém está lá. Se calhar os teus pais já lá estão e esqueceram-se de te avisar. – Disse ela.
- Pois, é boa ideia. Mas não tem de ir para o trabalho?
- Tenho, mas ainda tenho tempo de passar em tua casa. Depois ligo-te.
- Ok, obrigada. A chave está na mala azul, no bolso pequeno. – Indiquei.
Ela saiu e eu já não consegui adormecer. Estava desesperadamente à espera de uma boa notícia.
- Estou Filipa? – Disse a D. Mariana do outro lado.
- Sim. Eles estão em casa?