Passei a viagem a pensar no que tinha acontecido. Ainda não me conformava que a minha mãe e o meu pai estavam numa cama de hospital. Que a minha mãe podia não sobreviver. Que o meu pai estava traumatizado.
Tudo tinha acontecido tão de repente. Logo agora que o meu pai tinha voltado acontece isto. Nem tinha tido tempo para assimilar o regresso dele… E andava distante. Não parava de me culpar por não ter tido uma conversa com os dois, para lhes explicar o que sentia em relação a isto tudo. De repente lembrei-me de algo:
- Onde é que eu vou dormir? – Perguntei à D. Mariana.
Foi o Dudu que respondeu:
- Em nossa casa, claro. – Vira-se para a mãe: - Não é mãe?
- Claro! Vamos agora buscar a tua casa as coisas essenciais de que precisas. Roupa para alguns dias, escova de dentes e outros. E não vale a pena trazeres livros, porque amanhã, nem tu, nem o Duarte vão à escola. Vou eu tratar de uns assuntos para passar a ser a tua encarregada de educação. Depois logo se vê. – Explicou ela.
- Obrigada D. Mariana. Por tudo o que está a fazer por mim. Se não fosse você e o Dudu nem sei o que faria… Sou apenas uma criança. – Agradeci.
- Não precisas de agradecer. Não é nada. Tu és praticamente da família e além disso não te íamos deixar sozinha em casa. Connosco estás em segurança, tens comida, cama e tudo o que precisas. E já não é a primeira vez que dormes lá em casa. Vamos ao sótão buscar a tua “cama” e assunto resolvido!
Assim tratámos de tudo. Rapidamente estava instalada em casa do meu melhor amigo. Agora que pensava nisso, achava fantástico ir morar com ele durante uns tempos. Íamos divertir-nos à grande! Pena que os motivos que me levavam a ficar ali não eram os melhores.
Quando acabámos tudo o que tínhamos para resolver, já era de noite. A D. Mariana foi tratar do jantar e eu e o Dudu ficámos na sala a ver TV e a conversar:
- E como estás princesa? – Perguntou ele.
- Dudu estou bem. Quer dizer, estou-me sempre a lembrar do que está a acontecer com os meus pais, mas o facto de estar aqui faz-me sentir um bocadinho melhor… Obrigada por tudo, a sério.
- Oh Filipa, já te dissemos que não precisas de agradecer. Se a situação fosse ao contrário… Tu não farias o mesmo?
- Claro que sim… - Respondi eu.
- Então pronto!
Abracei-o. Sentia-me tão bem quando o abraçava. Parece que os problemas desapareciam por momentos. E só de pensar que o dia seguinte ia passa-lo só com ele. Como foi da outra vez em que aconteceu o problema com o pai dele… Só que nesse dia…
- Duarte, Filipa, para a mesa! – Chamou a D. Mariana.
Fomos jantar. Depois fomos ver televisão e quando eram horas, fomo-nos todos deitar. Cada um para o seu quarto e eu para o do Dudu…
- Filipa? – Murmurou ele.
- Ui! O que é que vem daí? – Perguntei, irónica.
- Oh…
- Vá diz lá! – Insisti.
- Amanhã vamos ficar os dois sozinhos, aqui em casa, certo?
- Ya, porquê? – Perguntei, ligeiramente surpreendida.
- Por nada só que…
- Só que…? – Acendi a luz para poder olhá-lo.
- Lembras-te da última vez que ficámos assim, sozinhos? – Como poderia esquecer-me…
- Lembro. Mas tens medo, que isso volte a acontecer é?
- Não… Opá, tu sabes o que eu quero dizer… - Disse ele.
- Sei. Olha porque não vamos para o nosso sítio?